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Envolto em geleiras e sob uma perpétua camada de neve, o continente de Aras no extremo norte é uma terra recheada de mistérios e lendas para a maior parte do mundo. São poucos os que se atrevem a morar nas altas montanhas. É lá em Amariikat que Amatuk, um jovem híbrido com grandes aspirações, constrói sua vida. Seu pai lhe ensinou muitas coisas com o passar dos anos: como guiar pessoas através dos montes, caçar, pescar… E como ser o próximo líder tribal dos Lobos Opala. Com olhos que apresentam uma mudança exótica de cores, ele sonha e anseia tanto por seu casamento com a amiga de infância, quanto pelo seu papel na hierarquia dos marak, seu povo.
Nada na vida é tão fácil. Amatuk logo descobre o quão dura a realidade da época é ao receberem a visita de um grupo hostil liderado pelo mercador Tajir. Resistir é inútil quando mulheres e crianças subitamente estão em perigo. De homem livre à mercadoria, ele logo vê seus sonhos e desejos desmoronarem. Tudo o que conhecia escorre por entre seus dedos e é difícil de alcançar o raio da esperança com o peso dos grilhões. Por sorte ou não, o rapaz não estava sozinho. Seu melhor amigo e noiva também eram prisioneiros e logo os três são vendidos como escravos. Ao ver tudo pelo qual ansiava ser tomado de si, Amatuk tem de tomar uma decisão: ficar e aceitar sua nova vida ou fugir das garras gananciosas da escravidão para caçar a justiça com as próprias mãos. Resignar-se e aguentar a nova realidade a qual se acostumou ou se rebelar e enfrentar o desconhecido atrás de vingança. Vida e escravidão ou ódio e liberdade. Amatuk ou Tajir. Alguém tem de morrer.
Erick Aresmoor nasceu no dia 12 de março de 1993 em Rio de Janeiro, capital. Começou sua aventura pela fantasia aos oito anos quando desenhava labirintos e descobriu os jogos de RPG. Rodeado por livros desde sempre, escreveu poemas na adolescência e redescobriu a escrita na fase adulta. Iniciou um canal de text stories no youtube em 2021 sob o nome ShadowInkling. No ano seguinte, aprofundou-se na escrita literária. Gosta de histórias com cenários imersivos e, além de ter a leitura como hobby, é instrumentista e mergulhador nas horas vagas.
Subgênero: Fantasia
Páginas: 336
Autores: Erick Aresmoor
Formato: 15 x 21cm
Acabamento: Sem Laminação
Miolo: Pólen 80g
Edição: 1 ª Edição
O olhar malicioso do garoto combinado à cauda que balança de um lado para o outro enuncia suas intenções. Vingança. Não, vingança seria um termo muito pesado para o sorriso que mostrava. Retribuição, talvez?
— Magia não vale, Tuk! — Ela protesta, acentuando a pureza de seus olhos cor de mirtilo e inclinando as orelhas para trás com o intuito de se mostrar mais frágil.
— Não se preocupa com isso, você vai poder logo — ele a tranquiliza enquanto toca o cordão de contas de vidro azuladas no pescoço. — Os dotes foram trocados. Assim que meu pai voltar da expedição, subiremos o Monte Tuphooh Shennuah.
Ele sabia que por não ter um condutor, ela era incapaz de controlar as energias naturais e criar magia. Era para ser uma batalha, mas não resistiu aos encantos da garota .
Ele desfaz o ato arcano e retira os óculos de neve, encarando-a com um sorriso plácido. Vê-la fazendo tal expressão fazia o coração bater mais rápido e um rubor diferente do causado pela baixa temperatura lhe subir à face. A desistência por sua parte era a prova de que sua fofura poderia acabar com guerras, o traço que mais admirava nela.
Ela era igualmente apaixonada por seus olhos que eram iguais a jóias opala, com as cores flutuando no interior de suas íris de acordo com o humor. Era como ver uma aurora boreal em miniatura.
A jovem corre para envolvê-lo num abraço, soltando pequenos guinchados fofos como o choro de filhotes e estridentes como assobios de golfinhos. Eram exclusivos aos momentos em que transbordava de felicidade. A satisfação pelo futuro que compartilhariam. O rapaz responde lhe dando um beijo suave nos lábios que a aquece por dentro.
Ela encontrou um local de descanso à sombra da árvore mais próxima e recostou-se no tronco. A luz do sol era carinhosa contra a pele, reluzindo e tilintando nos sincelos pendurados em galhos dos pinheiros como um lustre natural.
— A cerimônia vai ser lá? — ela diz, batendo no solo coberto de branco para que se junte a ela, um convite que aceitou de bom grado. — Meu pai e meus tios ainda estão caçando focas, eles também devem voltar logo.
Era sempre agradável acariciar os pêlos alvos de sua cauda , tão forrada de neve quanto os arbustos à sua volta.
— Geralmente os Lobos Opala são os únicos que podem ir, mas nossas tribos são irmãs… — Ele respondeu. — Nosso casamento é uma ocasião especial, um modo de unir as duas.
— Eu sei que sempre foi assim, fiquei tão contente quando descobri ontem que ia ser sua esposa que nem consegui dormir! — Ela diz com um sorriso coçando atrás das orelhas lupinas acinzentadas de seu noivo. O momento era tal qual um paraíso particular. — Angajuk me disse alguns dias atrás que sonhou que eu recebia uma notícia boa, mas jamais pensei que seria isso. Fui correndo contar para ela assim que minha mãe me disse… Ela mal pode esperar para me ajudar.
O rabo felpudo serpenteou com vigor de um lado para o outro, rápido o bastante para virar um borrão, contudo, ele recuperou a compostura ao limpar a garganta. Os sonhos de sua melhor amiga – a oniromante fökspi – raramente erravam.
— Nós tivemos sorte — ele concordou. — Também acho ótimo que ela seja sua madrinha e se proponha a nos ajudar com os filhos que teremos, só que não fiquei ansioso assim que nem você. Diferente de uma certa raposa que ataca os outros na cara logo de manhã, eu tenho autocontrole.
Ela o encarou por alguns segundos e explodiu em risadas, socando-o de leve no ombro.
— Mentiroso! Sua orelha direita sempre vira pra fora quando você mente! — Ela declara com ar triunfante ao perceber o trejeito. — Tuk, há quantos anos você acha que eu te conheço?
Deu de ombros e desviou o olhar, recusando-se a admitir a derrota.
— Quer ir lá na praia? — Ela sugeriu depois de algum tempo, batendo os flocos da parca ao se levantar. — Minha mãe pediu pra eu comprar um pouco de gordura de baleia pro sabão. A caravana de trenós só volta amanhã pra Porto Branco. Acho que ainda deve ter um pouco para trocar.
Ficou de pé e acenou com a cabeça, balançando com avidez a cauda para se livrar da umidade que agora a pesava.
Sua noiva sempre gostava de observar como a iridescência em suas vistas movia-se preguiçosamente sob a luz da manhã, quando ainda estava meio sonolento. Talvez fosse essa a razão de não perceber a pequena ave próxima às raízes do pinheiro sob o qual descansavam. Mas ele sim, e não demorou para que ela seguisse seu olhar.
— Coitadinho… — Murmurou Khoosa. — As asas foram quebradas, ele deve ter congelado durante a noite.
— Que triste perder a liberdade assim e morrer — ele acrescentou ao aproximar-se do corpo semi enterrado no solo .
Amatuk a observa pegar o pássaro do solo e inspecioná-lo mais de perto por alguns instantes. O rapaz não conseguia deixar de admirar como sua beleza só aumentou com o passar dos anos. Suas orelhas alvas que se abaixavam em uma mescla de compaixão e pena apertavam seu coração de um jeito suave. Ainda era a mesma moça meiga e gentil de sempre.
— Anda, você não está treinando para ser guia também? Faz a passagem dele, Tuk. — Ela pediu, colocando o animal de volta.
Sim, um guia em mais de um sentido. Desde criança seu pai vem o instruindo não só como alguém capaz de liderar incursões ao topo do Monte Tufaq igual a ele, como também no sentido espiritual… Um sacerdote dos deuses da caça e neve. Conduzir almas para o local de descanso era apenas mais uma das tarefas que aprendeu.
— Tá bem, pelo menos isso eu sei fazer — ele responde, ajoelhando-se ao seu lado. — Espero que Amaharii e Åppos cuidem de você, pequeno.
Ele suspira e a acompanha na silenciosa oração pela alma do passarinho antes de o enterrarem ao pé da árvore. Era muito cedo no dia para tudo aquilo. Muito cedo para um funeral. O silêncio que procedeu foi um pouco desconfortável, o clima jovial de antes desapareceu por completo.
— Meu pai quase foi morto por um Escava-neve há um tempo atrás, ficou preso no cume por três dias — ele disse ao se levantar, tentando mudar um pouco o assunto. — Mal chegou e levou outros clientes pra uma excursão .
Khoosa se pôs de pé e observou o garoto perdido em seus pensamentos, com as orelhas apontando instintivamente para qualquer som à sua volta. Olhava para o alto, vislumbrando o topo da montanha mais alta de que se tem notícia, a qual também era o local de trabalho de seu pai. E se tudo continuasse como planejado, um dia seria o seu.
— Essa não é uma temporada ruim para subidas? — Ela perguntou.
Sua cauda felpuda dançava de um lado para o outro em um gesto brincalhão, elaborando um plano para atrair a atenção do rapaz e levantar o clima. Ele acenou com a cabeça sem desviar o olhar do pico que reluz pelo sol refletido no solo, o efeito era quase hipnótico.
— Foi o que eu falei também, que é a época dos ventos fortes… — Ele resmungou. — Nós protestamos, mas disse que iriam pagar o dobro.
O tom pesado da conversa não era de seu agrado, então ela agiu. Amatuk mal teve tempo de perceber o ocorrido, estava mais uma vez com a cara suja e estirado no chão . Sua noiva lhe dá uma mordida no braço e pula para trás com um olhar predatório, incentivando-o a iniciar a perseguição.
— É assim, é? — Ele sorri ao cortar a distância com rapidez, rolando com a garota pelo chão da floresta.
Ambos brincavam dessa maneira desde novos, dando pequenas mordidas que não machucavam, só serviam para marcar a pele por algumas horas por conta de suas presas afiadas. Um eterno pique-pega por entre as árvores, cheio de investidas e ataques com dentadas carinhosas e risos contagiantes, brigando pela falsa dominância.
Nenhum dos dois sabia quanto tempo passaram nisso, mas foi o suficiente visto que precisaram retomar o fôlego. Não importava a idade que tinham ou o fato de não serem mais crianças, alguns costumes jamais mudariam.
Talvez mais meia hora de descida e chegariam na praça onde as mulheres da tribo limpavam as entranhas da pesca. Algo parecia estranho.
— Você escutou isso? — Ele perguntou, prestando atenção ao seu redor.
— O quê?
O rapaz olha em volta, pronto para detectar qualquer movimento fora do que estava acostumado. Não havia nenhum evento especial programado no mês. A tribo sabia que a temporada dos ventos fortes era a mais gélida e impiedosa do ano, na qual somente alguns arbustos davam frutos e certos animais migravam para a península.
A comida da época era mais restrita, desde carne defumada até frutinhas cobertas em banha, ovos e outros artigos que conseguiam com as caravanas de Porto Branco. Uma celebração fora de hora seria o ápice do desperdício de alimentos, então Amatuk descartou a ideia. Um aroma familiar é carregado pela brisa marítima até onde os dois estão: ferro e cobre.
— Estranho — ele comentou ao levantar a cabeça e cheir ar o ar para ter certeza. — Normalmente não dá pra sentir o cheiro de sangue de quando estripam a caça, mas esse parece diferente.
— Diferente como? — Ela perguntou, lavando o rosto com neve fresca e dilatando as narinas para captar melhor o odor.
— Parece mais… Gorduroso. — Ele respira fundo e olha para Khoosa com ar taciturno . — O cheiro é mais forte do que o dos caribus que caçamos a oeste. Não é herbívoro, não é sangue de presa.
Como se para ligar todos os pontos e desvendar o mistério, as orelhas da jovem apontam para a direção da praia por instinto, ainda fora de vista.
— Isso foi um grito! — Ela exclamou, agarrando sua mão.
— Merda, vamos! Fica atrás de mim, tá? — Ele recolocou os óculos para proteger a vista do clarão do ambiente antes de seguir para onde a mata é mais aberta.
Os dois correram floresta abaixo. A cada metro percorrido os gritos se tornam mais claros. A cada passo o odor de sangue fica mais pungente e o coração entala na garganta.
O frio abandonou o corpo de Amatuk, substituído por um calor agonizante que rastejava em seu ventre como uma cobra. Um mau pressentimento embrulhou o estômago. Algo aconteceu? Algum presságio que o rapaz não viu ou não entendeu? Alguém se machucou em um acidente?
Não seria a primeira vez que um caiaque virou de súbito ou um anzol fisgou uma orelha desapercebida, porém nada disso seria motivo suficiente para os gritos que ambos ouviram.
O modo como os pêlos em todo seu corpo se eriçaram lhe diziam para sair dali, para correr montanha acima e voltar para a segurança de sua cabana onde tudo ficaria bem. Seu coração batia rápido e forte como os cascos de uma debandada de bois-almiscarados em pânico .
Seu senso de dever e curiosidade não permitiu.
A vegetação ficava mais esparsa a cada passo, com menos árvores e arbustos. Logo o casal se viu em uma ampla faixa de neve que termina na orla de areia escura, suja de sangue em alguns pontos pelo trabalho dos moradores locais.
Seria ótimo molhar os pés na marola que se embrulha sob a própria escuma mais à frente, ou apreciar o vento salgado junto ao cantar das gaivotas. O absurdo que chamou sua atenção naquele momento o dizia que não era hora para isso.
Blocos de gelo flutuavam entre o litoral e o arquipélago próximo, desembocando em um mar aberto tão calmo que refletia perfeitamente o céu.
Foi ali que notou um navio de velas púrpuras ancorado em águas rasas. Grande, mas não era um galeão segundo o que ouviu de seu pai em algumas histórias. Amatuk não reconhecia o tipo de embarcação nas águas à sua frente. Tudo que o rapaz usou até o momento foram caiaques e veleiros de pesca.
Mantinham um bote fundeado próximo a margem, guardado por homem armado e em vestes de couro curtido, trajando um manto de pele de foca e urso por cima dos ombros devido ao frio. Outros iguais a ele se encontravam em terra.
Fez uma nota mental de que os desgraçados estavam em quase uma dúzia. Ao olhar para a comoção ele nota que todos se vestem do mesmo modo, com exceção de dois indivíduos.
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