Livro Físico
R$ 35,00
Disponível por encomenda
O futuro pode ser imprevisível e de muitas maneiras o véu que o cobre pode se tornar mais ou menos denso e, em alguns casos, até ser afastado totalmente.
Mas como saber o que esperar quando a incerteza marca os nossos corações?
Venha descobrir através destas três histórias a importância das decisões, o erro de se prender ao passado e também que muitas vezes o véu não deve ser retirado antes da hora.
Natasha Alencar nasceu no dia 10 de julho de 1993. Descobriu o mundo fantástico da leitura aos 10 anos e desde então só retornou ao nosso mundo em poucas ocasiões.
É bacharel em direito, mas sua grande paixão pela criação de mundos e de personagens levou-a a trilhar um caminho que sempre esteve escondido em seu coração: o da escrita.
Nas horas vagas, gosta de relaxar em sua poltrona preferida com um livro e uma xícara de chá.
Subgênero: Fantasia
Páginas: 109
Autores: N. M. de Alencar
Formato: 15 x 21cm
Acabamento: Sem Laminação
Miolo: Pólen 80g
Edição: 1 ª Edição
Eu não aguentava mais. Estávamos há dois dias naquele ritmo incessante e a subida não parecia ter fim.
Cada passo dado era uma tortura para as minhas pernas trêmulas. A respiração saía desregular e eu suava, apesar das roupas grossas por causa do ar gélido.
– Vamos, Nicolas! – gritou Guilherme mais adiante.
Olhei para frente com uma careta. Ele parecia inabalável, mesmo carregando as duas mochilas — nossos únicos bens.
– Eu não aguento mais, Maninho – reclamei, parando para recuperar o fôlego. – Não podemos parar um pouco?
Meu irmão suspirou e veio ao meu encontro.
– Nós fizemos uma pausa não tem nem 2 horas. E sou eu quem está carregando as bagagens – disse, ajeitando-as nos ombros.
Ele olhou para o céu, que estava coberto com as nuvens de inverno.
– Deveríamos continuar. Daqui a pouco vai escurecer e falta pouco para chegarmos ao cume.
Observei o topo com raiva. Porque o templo tinha que ficar no topo de uma montanha?
– Se tivéssemos ido para Campo Dourado já teríamos chegado faz tempo – resmunguei. – A tia Ellen teria nos recebido de braços abertos.
Era a quarta ou quinta vez que eu dizia a mesma coisa. Eu sabia qual seria a reação do meu irmão, mas precisava tentar mais uma vez. Afinal, aquela viagem era totalmente sem sentido.
– Eu já disse que não podemos ir para lá. A primeira coisa que o nosso tio faria é pegar todo o dinheiro que nos restou e em seguida nos jogar na rua. Nossa única alternativa é essa.
Encarei o chão ressabiado.
Roberto sempre foi um aproveitador e se vangloriava da sua posição de cavaleiro alado. Ele nunca tentou nada contra a família, apesar de o fazer com qualquer outro que fosse de uma posição mais baixa que ele.
Contudo, com a guerra avançando para dentro do país e a devastação dos campos e florestas, a população começou a passar fome. Inclusive a própria capital, pelo que ouvimos dizer.
O nosso tio era bem capaz de fazer o que Guilherme dizia, mas a tia Ellen nos protegeria. Ela não deixaria que o marido nos abandonasse, certo?
Quando olhei de volta, meu irmão já estava a vários passos de distância. Apesar da neve não se acumular na trilha, eu tive dificuldade em alcançá-lo.
– Maninho, espera! — gritei, correndo atrás dele.
Seguimos em silêncio por mais ou menos uma hora.
A cada passo dado mais as minhas mãos suavam. Eu sentia um vácuo no estômago toda vez que olhava para cima.
– Não seria melhor irmos para um abrigo? — deixei escapar. — Existem muitos como nós lá e eu acho que cuidariam bem da gente.
– Você está louco? — gritou Guilherme. — Quantas vezes eu preciso repetir que ninguém nos aceitaria. O país está em guerra e há fome e miséria para todo lado. Ninguém quer mais duas bocas para alimentar, mesmo sendo uma instituição que deveria nos acolher.
Recuei diante da explosão de meu irmão. Não entendia o porquê dele não querer ajuda.
– Mas Gui…
– Mas nada, Nicolas – cortou ele. – Eu estou cansado de você tentando arranjar soluções incabíveis. Nossos pais estão mortos! – gritou a última frase com os dentes à mostra.
Senti as lágrimas escorrerem pelas minhas bochechas.
– Ninguém quer duas crianças que não têm nada a oferecer – continuou no mesmo tom de voz. – A única forma de sobrevivermos nesta terra sem lei é revivê-los. Então pare de choramingar a cada dez passos.
Agachei-me no chão e escondi o rosto nos joelhos enquanto chorava.
Ainda lembrava quando o grupo de troca-peles em forma de cães gigantescos invadiram o vilarejo. Do papai ajudando a defender nosso lar e da mamãe fugindo conosco para a floresta. Como fomos seguidos e ela nos mandou seguir sozinhos, enquanto voltava para despistá-los.
Doía eles não estarem mais conosco. Sentia falta da risada estrondosa do papai e do abraço carinhoso que mamãe dava sempre que nós chegávamos em casa. Cada pequeno detalhe, agora, era uma lembrança importante.
Eu sabia que sem eles, eu e meu irmão teríamos muitas dificuldades para sobreviver, mas daríamos um jeito se olhássemos para frente juntos.
Então porque ele se agarrava a uma coisa do passado tão fervorosamente? Claro que se existisse uma possibilidade de ter meus pais de volta, eu me agarraria a ela. Mas tal coisa era impossível e muito perigosa.
Escutei o baque das mochilas no chão e senti os braços de Guilherme ao meu redor.
– Desculpe ter gritado com você – disse ele, enquanto me abraçava. – Não devia ter falado daquele jeito. Mas precisamos continuar. Nós somos crianças e ainda precisamos deles. – Sua voz era só um sussurro. – Eu não consigo sem eles.
Abracei meu irmão de volta e limpei o rosto em seu cachecol quando parei de chorar.
Ele me ajudou a levantar quando me acalmei. Pegou as mochilas e segurou na minha mão o restante do caminho.
Eu não disse mais nada.
Chegamos à caverna no topo da montanha quando o sol já havia se posto. A gritaria das serpentes na montanha vizinha era ensurdecedora daqui de cima.
Depois de Guilherme checar os arredores para ter certeza de que estávamos seguros, eu desabei do lado da bagagem. As roupas de inverno não eram capazes de nos proteger do vento cortante, mas eu estava tão cansado que não me importaria de tremer a noite inteira se pudesse ficar deitado.
Meus olhos já estavam fechados quando senti algo quente ao meu redor.
– Vai mesmo dormir aí no vento?
Fechei o cobertor ao meu redor e assenti. Não tinha forças nem para abrir os olhos.
– Bem ali tem umas pedras que nos protegerão. Se ficar aí, vai congelar durante a noite. – Senti um puxão no meu braço, mas
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