CAPÍTULO 1  – Ascenção

Mundo Comum – Santa Catarina.

         O céu era o meu limite.

        — Jaque, você não pode fazer isso. — A voz da Ana chegou aos meus ouvidos. 

         Ela era minha assistente e acostumei-me com aquela ladainha no decorrer dos anos em que trabalhávamos juntas. 

         — Não confia que eu seja capaz? — perguntei, ainda sem olhar para ela.  

         — Confio na polícia. Os mesmos que apreenderam seu equipamento, e que salvaram você, caso tenha esquecido.

         Ah, sim. A polícia, a pedra no meu sapato. Lidaria com ela mais tarde. No momento, recuperar meu equipamento era mais importante que qualquer coisa.

         — Sua fé em mim é um grande incentivo.  — Deixei que ela percebesse meu sarcasmo — Eu já volto.

         Com alguns passos saí da trilha, adentrando na mata. Mais à frente, a inclinação que dava início ao paredão rochoso do Cânion das Laranjeiras. Ele ficava na cidade de Bom Jardim da Serra, um dos lugares mais altos e frios do Brasil. E meu inimigo de longa data.

        O escalei alguns dias atrás e deu tudo errado. Os grampos se soltaram dos ganchos e prendi minha perna em uma fenda na rocha. Pedi ajuda pelo rádio e Ana avisou os bombeiros. Enquanto eles não chegavam, tentei me soltar. Caí de uma altura de cinquenta metros sem morrer e com algumas escoriações. o que era um milagre, se eu acreditasse nisso. Tinha uma mulher de cabelos brancos lá, ela conversou comigo e não me deixou desmaiar. Quando o socorro chegou, não a vi mais e o pessoal disse que não tinha ninguém lá. Disseram que delirei por causa da dor. Mal sabiam eles que ela sempre esteve comigo e jamais me deixou morrer, apesar das minhas tentativas, fossem elas conscientes ou não.