Livro Físico
R$ 65,00
Disponível por encomenda
1 – A pré-venda desta obra literária será realizada entre os dias 23 de julho a 23 de setembro;
2 – A partir do dia 23 de setembro, a editora conclui o projeto gráfico e envia os pedidos para a gráfica responsável pela impressão dos livros;
3 – Os envios começam a partir do dia 30 de setembro. O cliente é avisado do envio pelo email cadastrado no ato da compra;
4 – O cliente pode solicitar reembolso do valor investido na pré-venda até o dia 22 de setembro.
Você já quis muito algo que não importava as consequências?
Conheça Vitória, uma biomédica geneticista do renomado laboratório Gênesis, que se vê sem chão após perder seu companheiro, o cachorro Aloy.
Desesperada para vencer a solidão, caiu na tentação de criar um substituto. Nomeando-o de Pecado.
No entanto, depois desse grande feito tudo em sua volta começa a mudar, afetando seus relacionamentos pessoais e de trabalho, até a sua saúde.
Agora ela precisa descobrir o que há de errado nela e se o Pecado deve ficar ou não.
Mary Leide nascida e criada em São Paulo. Sempre apaixonada por histórias em todas as suas formas e mídias. Desde jovem, viaja por elas criando metáforas para o que vê e acredita. Esse ponto se torna muito mais forte quando se trata de sua fé ou ao ensinar o seu filho as verdades do mundo.
Agora, finalmente, apresentando suas narrativas com uma visão própria sobre as vertentes de crença e esperança, assim como seus antônimos, em uma mistura de realidade com fantasia.
Para ela, esse livro é um marco em sua história e um início para muitas outras.
Subgênero: Fantasia Urbana
Páginas: 178
Autores: Mary Leide
Formato: 15 x 21cm
Acabamento: Sem Laminação
Miolo: Pólen 80g
Edição: 1ª Edição
Ele morreu.
Sentada atrás do sofá, alisava os pelos de seu corpo frio enquanto minhas lágrimas o tocavam. Imaginava, sem sucesso, como aquilo aconteceu. O Aloy sempre esteve comigo. Era minha única família, um porto seguro. Não importava se estava triste, feliz, zangada, ou magoada. Bastava falar e lhe fazer um carinho para tudo melhorar, porém, agora estou sozinha.
Lembrei de que, naquele mesmo dia, meu gigante peludo havia me acordado com seus beijos e lambidas.
O arranhar frenético nas portas me chamava para sair. Um bebezão que não podia ver um poste. Imersa nessas recordações, sorri.
No entanto, quando voltei para realidade, abracei os joelhos, sentindo – me sem chão. Perdida em meio a um oceano. A casa parecia enorme, e eu tão pequena. Impotente com o coração apertado, estava cercada por um silêncio opressor, quebrado apenas pelos lamentos que saiam de mim.
Chorei até o amanhecer, velando, o que foi, o melhor cachorro de todos. Mesmo com seu pêlo caramelo desbotado, ainda era lindo e teria uma despedida digna.
Liguei para o veterinário e conforme as instruções, contatei o cemitério de animais mais próximo. Em uma hora, funcionários retiraram o corpo para o funeral. Escolhi um caixão de madeira e mandei encher de dentes de leão, sua flor favorita de comer. Não houve velório na capela. O fiz em nossa casa na noite anterior. Mesmo sem ser religiosa, ofereci- lhe uma oração e em seguida ele foi enterrado.
Fui ao laboratório na esperança de ocupar a mente, entupindo – me de trabalho. Ledo engano. Só pensava no Aloy e, por consequência, perdi o foco.
Cheguei tarde. Sentei na grande mesa de reunião, na nossa sala de equipe. Senti os olhares sobre mim, mas ninguém comentou nada. Então os ignorei. Melhor assim. Afundei-me nos papéis: relatórios de procedimentos, coleta de dados, resultados de pesquisa e hipóteses a serem comprovadas. Tinha que ter certeza se estavam todos lá e preenchidos do modo certo, mas não lembrava de nenhuma palavra.
Foram horas lendo um único parágrafo e ainda não sabia do que se tratava. Tudo em mente era o bebezão e como me abandonou. O que só aumentou o aperto no peito.
Passei a maior parte do dia assim e alheia ao quanto afetou os pesquisadores. Afinal, eles estavam sem a chefe direta pois, naquele estado, eu e nada éramos iguais.
Em algum momento da tarde, talvez cansado pela minha inutilidade ou pressionado pela equipe, não sei ao certo, Caio, meu assistente, inquiriu:
— O que aconteceu com você? Ainda não percebeu o quanto está atrasando e atrapalhando o trabalho de todos?
Apesar de ter ciência dessa falha, suas palavras me atingiram em cheio. Larguei os papéis e o encarei.
— Nunca tive a intenção de dificultar o trabalho, mas já que estou atrapalhando, como disse, fique à vontade para assumir a responsabilidade pela equipe o resto do dia.
Levantei sem cabeça para discutir e trabalhar só piorou tudo. Então, peguei minhas coisas e, quando atravessei a porta, ele me indagou:
— Sério, o que aconteceu? Você não é assim. — A indiferença e a acusação sumiram.
Já que parecia interessado, contei-lhe tudo. De que adiantava esconder?
— O Aloy morreu ontem à noite.
— Seu cachorro? Você está assim por causa de um cão?
Com o rosto queimando e uma vontade de socá-lo, cuspi as palavras:
— Desculpe por decepcioná-lo, mas sim. Aquele cão — disse, imitando-o — era minha única família!
Dei as costas e me retirei. Não toleraria mais o desprezo dele pelo gigante. Estava no meio do corredor quando, correndo, ele me alcançou.
— Espera! Acho que sei como te ajudar. — Seus olhos brilharam e um sorriso afiado se abriu em seu rosto. O que trouxe esperança. — E se você pudesse criar seu próprio bicho de estimação?
— Foi isso que fiz com Aloy, o adotei quando ainda era filhote e o criei até que… enfim…— engoli a vontade de chorar.
Ele revirou os olhos. Recostou na parede e prosseguiu.
— Pensa de novo. Você é uma excelente geneticista, trabalhamos em um laboratório e ainda temos acesso ao útero artificial sem supervisão. Você pode criar o que quiser!
Era verdade, uma situação como essa não se repetiria tão cedo. No entanto, permaneci cética.
— Eu acho que não entendi… Sua ideia não pode ser algo tão absurdo assim… — O encarei e seu olhar malicioso me disse que sim, tinha o compreendido. — Não! Não vou fazer isso. Só cogitar já é loucura.
— Tem razão! — Com um sorriso me convidando a aprontar, continuou: — Já imaginou… Se pudéssemos criar um ser que não morresse antes do seu dono?
— Caio, seria uma aberração! Algo anti-natural. Não quero ouvir mais nada — ordenei.
— Está bem, doutora Vitória! — exclamou com o sorriso de um animal faminto. — Mas essa pode ser a maior descoberta do laboratório. — Deu cinco passos, virou- se e prosseguiu: — Não se preocupe, você pode arrumar outro animal — com uma careta de dó fingida, continuou — é uma pena que ele possa morrer também e te deixar sozinha.
Caio saiu. Contudo, suas palavras permaneceram. Será que ele tinha noção do que falou? Edição e manipulação genética eram práticas condenáveis pela comunidade científica por ferirem os princípios.
A cabeça latejou. Aquela altura, não sabia se era sono, tristeza ou preocupação com o assistente inconsequente. Tomei um café na lanchonete ao lado do Gênesis, mas nem isso foi útil.
Então voltei à sala e leitura dos relatórios que me esperavam. No entanto, os pensamentos oscilavam entre a morte do gigante peludo e, de vez em quando, a ideia maluca do biólogo.
Permaneci presa nesse turbilhão a ponto de não perceber que chegava ao final do expediente. De repente ouvi uma batida suave na porta, apesar da mesma estar aberta. Por acaso, era o Senhor doutor Emanuel. Sim, ele escolheu o pior dia para me ver. Levantei de súbito e o convidei:
— E-entre presidente… Pode se sentar.
Quando ele se sentou, imitei o movimento. Contudo, a perna direita não parava de tremer.
— E-em que posso ajudá-lo?
— Em nada — afirmou com um sorriso que me confortava. — Pelo contrário, eu quero ajudá-la.
A sua voz continha tanta autoridade, mas ao mesmo tempo era suave como a calmaria após uma tempestade.
— A m-mim? — perguntei franzindo as sobrancelhas.
— Sim. Soube que não estava bem hoje, então resolvi vê-la.
— Q-quem lhe contou?
Como ousaram incomodar o deus da ciência por minha causa?
— Ninguém me contou, apenas pensei em conversar.
— N-não se preocupe. Logo ficarei bem. — Sorri o melhor que pude naquele momento, para não trair minhas palavras.
— Tem certeza?
Ele tinha um olhar tão penetrante, como se visse todos os meus pensamentos e sentimentos. Inclusive todas as coisas que cogitava fazer. O que me assustava e maravilhava ao mesmo tempo.
— S-sim.
Com certeza dei a resposta errada, pois ele soltou um longo suspiro e se levantou.
— Se mudar de ideia, sabe onde me encontrar — afirmou com um sorriso que não chegava aos olhos, pelo contrário, estavam tristes.
— C-claro! — Foi tudo que disse e então ele saiu.
Apertei o rosto com força, gritando em silêncio. Frustrada por gaguejar na frente dele.
Pouco depois acabou o expediente. Não queria ir para casa.
Entretanto, Caio me esperava próximo a saída.
— E aí, vamos resolver seu problema do cachorro morto? — perguntou com um sorriso, como se tivesse vencido uma guerra.
Ele balançava de um lado para o outro, igual um barco à deriva, mais agitado do que de costume, provavelmente muito empolgado com aquela ideia.
— Por mais interessante que seja, devo recusar. É uma aposta arriscada demais.
As consequências de um ato assim seriam demissão no mínimo e no máximo exclusão da comunidade científica.
Saí do Gênesis pensando naquela loucura, no entanto, ao entrar em casa, a ausência do Aloy bradava. Ninguém para me receber ou me fazer companhia. Só o silêncio que engolia o barulho da rua.
Um vento arrepiou a espinha enquanto colocava minhas coisas no aparador, onde vi as minhas fotos com o bebezão caramelo. O peito doeu. Queria vê-lo, mas os mortos não voltam à vida. Contudo, talvez…
Peguei o celular e liguei no mesmo instante.
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