Livro Físico
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1 – A pré-venda desta obra literária será realizada entre os dias 18 de junho a 18 de agosto;
2 – A partir do dia 19 de agosto, a editora conclui o projeto gráfico e envia os pedidos para a gráfica responsável pela impressão dos livros;
3 – Os envios começam a partir do dia 26 de agosto. O cliente é avisado do envio pelo email cadastrado no ato da compra;
4 – O cliente pode solicitar reembolso do valor investido na pré-venda até o dia 17 de agosto.
O Rio de Janeiro continua lindo?
Não é o que parece nas comunidades e favelas da cidade. Cenários onde a violência é exposta como marcas de uma cultura pulsante e marginal. Ali, rodeado pelo abandono, Jorge, um pacato morador da favela da Galinha Frita, se torna o guerreiro mitológico Mariwô. Usando a poderosa armadura de Ogum, ele parte para a derradeira batalha contra a morte e o caos, promovendo a justiça para seus companheiros. A mitologia africana, amalgamada a diversas outras visões de mundo, movimenta as ações do herói rumo a um mundo fantástico de perspectivas completamente distintas, mas que habitam uma mesma realidade de superação e amor ao próximo. Tudo desfiado pela folha do dendezeiro, o Mariwô, em uma história em que a tolerância é como o metal afiado da espada.
Rafael Garcia Eiras é professor da rede municipal do Rio de Janeiro, além de freelancer no mercado audiovisual carioca. O autor que é formado em Cinema e Historia cursa no momento o doutorado em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal Fluminense – UFF/RJ. Como diretor de cinema tem três curtas metragens produzidos e como escritor já publicou diversas artigos acadêmicos para revistas ao redor do mundo. Sua dissertação de mestrado está prestes a virar o livro intitulado De Ganga Zumba à Quilombo: carnaval e utopia na obra de Cacá Diegues. No entanto, no universo ficcional esta é a sua primeira obra. Com certeza a primeira de muitas.
Subgênero: Fantasia urbana
Páginas: 315
Autores: Rafael Eiras
Formato: 15 x 21cm
Acabamento: Sem Laminação
Miolo: Pólen 80g
Edição: 1ª Edição
A cicatriz no peito queimava e o corpo dele se contorcia. Suava os lençóis, molhando toda a cama, mas não acordava.
Jorge escutava os barulhos da briga, depois vinha o som do tiro. Tudo se repetia muitas e muitas vezes. Até que abriu os olhos.
O vulto estava ao lado da cama.
Já era dia e o sol invadia as frestas da cortina do quarto. Ele se sentou na cama olhando para o nada. Estava sem camisa e a cicatriz em seu peito era rasgada pela claridade. Um amontoado de pele distorcida. Colocou a mão em cima dela subitamente, lembrando quando uma barra de ferro em brasa atingiu a pele. Foi sua iniciação ao mundo da forja, profissão que conquistou com muito esforço, pois era uma forma de escapar do mundo em que vivia.
O morro da Galinha Frita era o seu lar, onde crianças como ele, sem pai, seguiam um caminho pelo tráfico, pelos presídios e pela morte.
Logo Maria apareceu no umbral da porta, já pronta para o trabalho. Ela estava com seus cabelos crespos soltos, vestida com uma camisa branca e uma calça jeans. Seu marido não percebeu.
— O que foi, amor? Outro pesadelo?
Ele não respondeu.
— Meu amor, você já está bem?
Jorge apertou a cicatriz. Sentia que o espectro ao seu lado sumiria se lutasse, mas como sempre, ele se mantinha ali. Sua expressão se transformou em ira e os seus músculos se contorceram. Uma vontade de destruir tudo à sua volta surgia em seu coração, mas ele se controlou, olhou para sua esposa, pensou nos seus planos em conjunto. Acalmou-se
— Agora estou bem. Vamos tomar café? — desconversou. Tinha medo de compartilhar com ela seu sonho.
Maria acenou com a cabeça, se aproximou e pegou a mão do marido. Levou ele até a mesa da cozinha. Sentaram em silêncio.
— Isso está ficando sério. — ela falou, quebrando o gelo. — Preciso te ajudar. Você tem que me contar sobre esses seus sonhos — completou, enquanto ainda acariciava as pontas dos dedos dele.
Jorge tomou coragem. O medo ainda fazia sua boca tremer e gelar seu corpo, mas foi em frente.
— O fantasma está aqui… Eu… Eu quero te contar. Juro! Mas toda vez que…— Sua garganta travava, mas ao olhar o rosto da mulher, teve a coragem de continuar. — Lembra? Eu sempre acompanhava minha mãe no terreiro de Dolores. Eu nunca gostei de ir muito lá. Sempre via espíritos e sombras me seguindo, mas elas sumiam quando meu olhar as fixava. De qualquer maneira, era assustador. O Manuel também estava sempre por lá. Ele morava no terreiro. Sua serenidade acalmava minha angústia. Nós ficávamos horas debaixo da sombra do dendezeiro brincando e conversando. Ali o vento soprava suavemente, aliviando um pouco do calor que fazia no morro, além de ser o lugar mais calmo do terreiro. Chamavam a árvore de Mariwô, a morada do deus da guerra.
Maria olhava a expressão do marido enquanto falava. Ele estava em outro lugar, como se revivesse a história.
— Mas, naquele dia, um vulto que não desaparecia me acompanhou no terreiro. Fiquei assustado. Era como se uma sombra me perseguisse. Por isso, passei a tarde toda no dendezeiro com Manuel. Aí escutamos…
Na mesa do café, a expressão de Jorge se transformou em horror. Sua mulher ficou com medo, mas não o interrompeu.
— Era uma espécie de algazarra vinda da casa. Barulhos de coisas se quebrando, misturadas com gritos. Nós corremos para o interior. Lá estavam os dois invasores: Zé Mané com roupas maltrapilhas, e o outro era o Imortal.
Maria se contorceu ao escutar o nome de Imortal. Era o apelido de seu pai. Tudo o que ela sabia era que ele desapareceu da face da terra quando ainda era criança.
— Dolores não estava em casa. Minha mãe arrumava a cozinha e a de Manuel descansava. Entramos na casa e nos dividimos. Logo vi que os dois bandidos fizeram a minha mãe de refém. Zé Mané apontava uma arma para a cabeça dela. Já Imortal a ameaçava. Dizia algo como: “Pelos anos de amizade com o seu falecido marido, esconde a gente se não vou estourar seus miolos.” E foi nesse instante que eu entrei.
Maria não poderia mais interromper Jorge. Aquela história também era a dela. Só de pensar na imagem de seu pai, seu peito doía e suas mãos suavam.
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